no fundo, no fundo, as meninas todas continuam as mesmas. com seus sapatinhos pelo chão e um punhado de vida amarela pra jogar na cara dos dias cinzas. quanto a mim, pra jogar a vida amarela, tão fraquinha, mas brilhando, nas cinzas de um cigarro que inexoravelmente acendo. a ponta tem cor de fogo a cada trago. parece o sol estourando nalgum ponto do oriente. ninguém me disse, ninguém me contou, mas sempre achei que o sol no oriente deve brilhar outro. as meninas todas seguem procurando entender o sol.

muitos barcos devem passar. as meninas todas remam sem entender o fluxo das águas. é o que é mais bonito nas meninas: tentar entender o que quer que seja. quando eu tinha cinco anos e corria, corria no playground sem perceber as duras pegadas atrás de mim, de uma determinação toda própria dos cinco anos de idade. hoje são ônibus e a loucura de entender a cidade. as meninas todas tentam entender a cidade. por que mudam as paisagens quando o sol vai embora?

moro na cidade de niterói, na praia de icaraí, no estranho estado que é o rio de janeiro. vejo a capital da cidade daqui como ninguém além de mim poderia ver. as árvores da praia, a noite chegando: um véu que cai da abóbada azul-escuro pra cobrir a clara noção daquele poema pra além da baía de guanabara.

e passam as meninas todas.