meu caro senhor,

ainda existe qualquer tipo de choque nessa cidade quando as gentes exibem seus vícios. o vício em qualquer coisa me é tão precioso, meu caro senhor, que penso cá comigo: deveria ser crime exibir os próprios vícios. fumo meus cigarros, com todo o prazer possível, e fumo-os solitariamente, sempre à espera de alguma coisa. penso em corpos nus e penso tão-somente - também deveria ser crime falar dos corpos nus, tão tangíveis ao tato, tão inatingíveis quando no parco calor das palavras. falo e sinto o sabor indizível de certos tópicos, mas sempre em voz baixa: os assuntos sao tão corruptíveis quando vão de encontro ao erro de certos ouvidos! visito cidades, novas cidades, e não ouso escutar além das minhas próprias sensações. degusto os vícios às escondidas: desfazem-se ligeiro como as cenas boas de um filme, morrem segundo a segundo; deveria ser crime não dedicar a eles toda a atenção.