quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

a ler sem dar assim tanta importância.

"luz vermelha na sala nao é boa coisa", falou a voz outra, aquela voz do outro lado. eu quis argumentar, quis dizer que precisava escrever, que os meus dias têm tido e sido essa luz vermelha que coisa boa nao é. e eu mesma escolhi a luz vermelha pra essa sala. escolhi porque nao imaginei que fosse sentir o vazio imenso e inevitavel de quem escolhe coisas. escolhi porque nao sabia que doeria assim, nao sabia que a luz vermelha da sala se tornaria os passos pra além da janela da sala, pra muito além da janela da sala, o sinal vermelho, a noite nessa cidade de tantas luzes, por que é a luz vermelha que insiste em se destacar? os farois dos carros, os olhos cheios de raiva dentro do metrô, porque ja é tarde, porque ainda estou voltando pra casa, por que eu ja nao estou em casa?, o que diabos eu estou fazendo aqui?. tenho vontade de ser lirica e de mandar pra puta que pariu o receio de descobrir que o lirismo na verdade tem uma medida estranha, que eu nao consigo alcançar. de nada adiantou a literatura, de nada adiantaram tantos anos de literatura, agora fica o duplo silêncio, eu ja devo ter dito demais, tao além da conta que cada palavra me faz refletir imenso, por que os brasileiros nao falam assim também?, pensar nas tantas inferências, pensar que pensar que as inferências sao tao inalcançaveis quanto o pretendido lirismo, imaginar se ainda vale a pena continuar a escrever sob a luz vermelha da sala, vermelha como o sofa, como a dor breve e eficaz que faz as putas chorarem sob uma luz igualmente vermelha nos lugares invisiveis da cidade. essa luz nao me deixa terminar.
sob a luz vermelha, eu tive delirios de escrita. e eu nao consegui muito além de meros desabafos. vazios. mas boa puta nao chora. e eu continuei aqui.

2 comentários:

mario elva disse...

Hmm. Vc nem deve se lembrar de mim, mas eu ainda adoro o que vc escreve. Estive lendo em silêncio por um longo tempo, mas resolvi falar agora.

Vitor disse...

"já eu, não". Mas como eu acho interessante retomar algumas coisas, aqui estou.
Boa puta não chora? Legal. Não sou versado em mate´ria de putas, mas realmente isso é significativo... boa puta não? Quem não chora? Mas, entre nós - e o camarada ai de cima que também a lê - eu prefiro choras no escuro.
Mas esse ai foi meio angustante, não?